sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma corda sem nós
Um silêncio de imaginação

Não são espaços de conforto são mais espaços de tempestade
Palavras medidas, a pele escondida em medo e deleite

Linhas medidas
Paz
Um poema em cada palavra quotidiana

Uma espera
Um disfarce
Um tiro sem confiança no escuro

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

um desenho oblíquo esbatido nos teus tons de subida em vertigem
palavras memorizadas numa cadência sem leis de gravidade
uma lista um papel que não tem cantos dobrados
um inventário que não pode ser de um só fôlego
paz onde não pode existir resposta

obliquamente nunca existe silêncio
existe uma nossa queda em espelho

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

sou poesia quando não sou mais nada
quando mais nada me faz a máquina funcionar
quando a dolência me lança sem tapetes ou penas ao que antes era um  lago de cristal e vidro
sou poesia quando as nossas palavras suspensas no ar pedem o tempo certo da respiração
são sons de trânsito e tempestade
o silêncio do final do dia o ouvir o respirar o toque o sentir que a pele tem sons desconhecidos
o falar contigo com a voz do sono e das memórias
temos recordações onde antes tínhamos tecidos a cobrir o frio
somos inseparáveis na dúvida nos quentes pontos de interrogação
somos qualquer coisa por escrever
uma história inventada repetida em coro
mãos comboios casulos de solidão praias frias filmes
uma nova agonia reinventada

é como se a minha porta tivesse um defeito de fabrico e as correntes de ar tivessem o teu nome
como se os meus braços tivessem a forma do teu deitar
como se a tua memória fosse gesso na minha
porque por mais longa que seja a vida tenho-te gravado
reescrito hoje
reinventado pelos olhos tristes
és outro sem que de novo tenhas outros gestos

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

canso-me demais fora da poesia
a tranquilidade sacia-me sem palavras as palavras redobram-me em esforços de me saber real
canso-me e descanso em simultâneo
recrio outra história sem incansavelmente me desapaixonar
viajo em dor e respiro-me em paz protegida pelo arco das palavras

em poesia

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

desfaço-me em retalhos meus
deixo-me ir à deriva conhecendo de cor cada bocado de mar que me embala
não sou acasos ou acessos de fraqueza
sou consistência, luta fervorosa por uma só existência sem cinzas e restos de tecido de um passado tão tatuado na minha pele coberta por roupas quentes de inverno

sou muito enquanto me encontro devagar
amo em restos furtivos de encontros perfeitos
despeço-me sem pressas contra uma parede onde desenho finalmente o meu perfil sem que a mão me trema

de saudade

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

cantos de pássaros uivam nas memórias
embalo-as como um filho
esqueço regras e tenho nas mãos o cair infinito em negro e sombras doces

não sofro em demasia
sofro encantada de ti

terça-feira, 16 de novembro de 2010

tenho um arco de cristal na mão
e sei o ponto certo de estilhaços
o ponto certo do veludo
o ponto certo do coração em sangue

sou indesistível nos silêncios
nos cantares e cânticos religiosos

na memória

sou ponte se não souber ser rio ou margens sólidas
sou mais que uma solidão
sou pontos que se unem dolentes na mudança

sou o amor o amor o amor o amor
um livro inteiro escrito à noite entre dedos, roupa suja, encontros dourados
um livro de cabeceira

conto-me uma história e espero por um fim em forma de papel creme

quinta-feira, 24 de junho de 2010

escondo os tesouros dentro desta caixa em que transformei o meu caminho habitual
em que lentamente te transformo sem presença
e sem contar dias ou minutos finjo que estes gestos te chegam com a forma antiga e imutável
amo-te sem outros voos sem filmes antigos ou contos de fadas
amo-te no toque vulgar
no sofá vermelho ao fim do dia
amo-te em dimensões espelhadas
em histórias repetidas e reescritas com tinta branca
amo a memória a saudade o desejo e amo palavras antigas
amo as músicas que não existem novas dedicatórias a lápis inscritas sem dor na pele cansada
nos olhos que fecham devagar em viagem

terça-feira, 6 de abril de 2010

tenho a tua pele na memória como um vulcão de amor e a tempestade dolorosa de uma instável ponte um rio de lava um imaginário constante de ti e o teu nome o teu nome o teu nome e o silêncio que discretamente é mesmo a verdade

tenho o corpo dormente de nós

terça-feira, 30 de março de 2010

Tenho o meu poema na linha do teu perfil e as palavras são tinta diluída no toque
no amor reescrito
na ânsia de encontros incansáveis

és o poema que me envenena o coração
tenho na mão as letras inúteis
no beijo a arte poética necessária

não quero a poesia enquanto o poema for arma contra o corpo desistente
sou encantamento
dias reais
pele em dias cadentes e tremor feliz

inebrio-me de ti para que a tua imagem não me deixe os gestos soltos
moldo o amor à linha do meu corpo para que não me transcenda e para que ainda assim me encontres no escuro de uma noite banal

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

tenho na pele o cheiro tão real da cadência de uma noite insólita e feliz
tenho em mim os segredos do amor do descanso do medo tranquilo
da irreal história sem páginas rasgadas, de uma euforia sem limites nem equilíbrio
sem regras ou paixão reencontrada, sem limites nem portas nem oceanos
só notas musicais, peles novas, casas desenhadas e encontros desesperados

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

passei a primeira porta
e guardo agora a chave como relíquia
sem esforço, dentro destas notas musicais

domingo, 17 de janeiro de 2010

tenho-te em tamanha fantasia
segredos paredes meias com a pele real

tenho a tua voz como uma poesia
uma pedra sem contornos no lugar quotidiano
sou mais eu no corpo embalado de imaginação
desenho o teu perfil no lençol frio
amo as formas, o silêncio, a ânsia de te encontrar no caminho
amo as palavras insensatas
o amor desiquilibrado em êxtase e incompreensão

tenho-te como meu nas horas e nos cafés solitários
na chuva imperfeita, na casa abandonada de esperança
nesta luz improvável de nunca seres menos sangue que o meu

tenho-te como poesia
porta fechada
manhã antes de acordar
música
pele
filmes antigos
ruas desertas
vidros húmidos
luz fraca
encantamento
outros dias como este
um diário esquecido sem chave

um segredo que me cai das mãos na esperança que o vejas no teu caminho remendado
horas nossas
água quente
uma dança inusitada
uma viagem sem tempo
uma história infantil
um sofá
uma noite e dentro dela um só corpo apaixonado

sábado, 16 de janeiro de 2010

tive a porta aberta e do outro lado a luz azul incandescente
e preferi, devagar e sem dor, desenhar uma teia de arame que te encante e aprisione só mais um dia

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

vejo a chuva que me enfeita os passos numa passadeira de veludo


sou estátua luminosa enquanto for pedra no teu quotidiano mecânico
e pétala de rosa na imagem irreal dos meus dias solitários

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

visto o meu fato de viajante e deixo-me à solta noutras histórias

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

tenho frio dentro dos ossos


e a dura sensação de ter perdido a pele noutra paragem que não esta onde me abrigo da chuva

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

estou entre dois vidros partidos de contornos desiquilibrados
um mar alto em tempestade, desalinhado
ambíguas vigas de metal, jangada e dor cinzenta
tenho o corpo numa massa cansada
tecidos rasgados com janelas para o frio


e, no lugar do coração, uma tocha incansável de fogo e cânticos apaixonados

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

encontro-me sem paz
insistente e sem perder a força dos meus dedos delicados e com mil anos de histórias reais

escolho o abismo

e prefiro pela primeira vez o indecifrado código de um corpo vivo ao conforto das penas e desgostos

reeinvento-me e estico a verdade até já nada existir de concreto ou compreensível
sou maior enquanto me descobrir segura dentro da palma da tua mão